Autocompaixão: o segredo para uma vida plena
- Gustavo Góes
- 21 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de mai. de 2024

O dia está chuvoso, mas ela se encontra sozinha em casa, enrolada em um cobertor, observando as gotas que pesadamente batem na janela. "Sou uma imprestável!" - pensa a mulher - "Desempregada e sozinha. Uma pessoa nessas condições só pode ser alguém inútil, e é isso que eu sou." Afasta-se e se assenta no sofá, encarando a televisão desligada. Um sentimento amargo domina seu coração, e ela acredita que sumir seja a única solução.
Talvez você, que está lendo este texto, se enxergue na mesma situação acima. Até busca auxiliar outras pessoas, mas sente que sua própria vida não tem valor. Este é o momento em que seu maior crítico e destruidor é você mesmo. Isso é falta de autocompaixão!
É verdade que a vida é repleta de vitórias e fracassos, porém, não podemos nos limitar a eventos pontuais, e a autocompaixão nos conduz a uma perspectiva mais abrangente da jornada {3}, percebendo nossa experiência humana como algo que ultrapassa a eventualidade da falha. Assim, desenvolvemos a percepção de dignidade própria {8}.
Alguns chegam a confundir a autocompaixão com autoestima, mas elas têm algumas diferenças. Enquanto a autoestima é uma condição psicológica para o sentir-se bem, a autocompaixão se aprofunda compreendendo a própria humanidade sujeita a falhas {4}. Por isso, estudos apontam que a mera autoestima pode conduzir a comportamentos narcísicos {6}, pois, ainda que a autoestima conduza a um bem-estar temporário, sua intensa busca em nossos tempos tem se demonstrado problemática {4}. Isso porque quando conseguimos nos observar como seres humanos que podem receber cuidado e carinho, apesar das falhas, tendemos a ser mais maleáveis e compassivos também com os outros. No entanto, a autoestima sozinha pode fazer com que a pessoa não consiga perceber os sinais sociais negativos que se levantam ao seu redor, confiante em sua própria capacidade de viver sozinho, esquecendo-se de que somos seres sociais.
Desenvolver autocompaixão não apenas melhora nossos relacionamentos, mas também nossa vida pessoal. Pessoas com baixa autocompaixão tendem a ter mais distúrbios alimentares {7}. Estudos também demonstraram que a autocompaixão trouxe melhora em diversos aspectos psicológicos como sono, depressão, autoimagem, inteligência emocional, estresse, dentre tantos outros {1}.
Alguns mitos se levantam em nossa cultura acerca da autocompaixão e que a pesquisadora Kristin Neff demonstra serem irreais {5}:
A autocompaixão nos torna fracos: Na verdade, ela nos torna exatamente o oposto disso, já que diversos estudos demonstraram que pessoas com mais autocompaixão acabam se tornando mais resilientes porque compreenderam suas limitações humanas.
A autocompaixão nos torna autoindulgentes: Novamente, em realidade, é o oposto disso. A autocompaixão nos ajuda a desenvolver hábitos mais saudáveis.
A autocompaixão nos torna egoístas: Na verdade, a autocompaixão nos torna mais voluntariosos, pois passamos a ver que é normal falhar e que os outros também podem cometer erros.
A autocompaixão nos desmotiva: Ao contrário, a autocompaixão nos motiva a continuar o caminho, porque entendemos que a vida é feita de altos e baixos, acertos e erros, e que mesmo assim podemos continuar.
Assim, uma dica para desenvolver autocompaixão é: envolva-se em atividades de autocuidado. Podem ser atividades que sejam mais tranquilas e que tragam acolhimento, como leitura, descanso, conversa com pessoas que ama; mas também podem envolver atividades mais intensas que tragam energia e vigor, como prática esportiva ou exploração {2}.
E não se esqueça de que a vida é um processo de aprendizado! A autocompaixão é o segredo para uma vida plena. E eu posso te ajudar em seus passos.
Referências:
{1} Bluth, K., & Neff, K. D. (2018). New frontiers in understanding the benefits of self-compassion. Self and Identity, 17(6), 605–608. https://doi.org/10.1080/15298868.2018.1508494
{2} Hayes, L. L., Ciarrochi, J. V., & Bailey, A. (2023). O que te Torna Mais Forte: Como Prosperar Diante das Mudanças e Incertezas Usando a Terapia de Aceitação e Compromisso.
{3} Neff, K. D. (2003). The development and validation of a scale to measure Self-Compassion. Self and Identity, 2(3), 223–250. https://doi.org/10.1080/15298860309027
{4} Neff, K. D. (2011). Self‐Compassion, Self‐Esteem, and Well‐Being. Social and Personality Psychology Compass, 5(1), 1–12. https://doi.org/10.1111/j.1751-9004.2010.00330.x
{5} Neff, K. D. (2023). Self-Compassion: theory, method, research, and intervention. Annual Review of Psychology, 74(1), 193–218. https://doi.org/10.1146/annurev-psych-032420-031047
{6} Neff, K. D., & Vonk, R. (2008). Self‐Compassion versus global Self‐Esteem: two different ways of relating to oneself. Journal of Personality, 77(1), 23–50. https://doi.org/10.1111/j.1467-6494.2008.00537.x
{7} Paranjothy, S. M., & Wade, T. D. (2024). A meta‐analysis of disordered eating and its association with self‐criticism and self‐compassion. the International Journal of Eating Disorders/International Journal of Eating Disorders, 57(3), 473–536. https://doi.org/10.1002/eat.24166
{8} Zessin, U., Dickhäuser, O., & Garbade, S. F. (2015). The Relationship Between Self-Compassion and Well-Being: A Meta-Analysis. Applied Psychology. Health and Well-being, 7(3), 340–364. https://doi.org/10.1111/aphw.12051
Comments